Luiz Antonio Domingues Filho e Givanildo Matias.
Ter perfil de negócios é essencial para garantir a longevidade da carreira de personal trainer. Quem trabalha por conta, como autônomo, tem a liberdade de programar a rotina, garantindo o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Apesar dessa vantagem, é preciso ter atenção redobrada com a questão financeira. Afinal, o profissional autônomo, como o personal trainer, precisa, antes de mais nada, ter em mente que ele é a sua própria empresa e tem de agir com o perfil de negócios.
Dessa forma, é preciso estruturar um modelo de atendimento, um planejamento estratégico e se atentar às finanças, ao marketing e às vendas.
“Não basta só vestir a camisa e conhecer a parte técnica. Além disso, personal trainer deveria ter empresa aberta, porque começa a ter facilidades no mercado, como empréstimo caso queira investir num estúdio ou produto, pode trabalhar com empresa porque emite nota fiscal etc”, diz Luiz Antonio Domingues Filho, mestre em Educação Física, autor de vários livros e personal trainer do In Forma: Centro de Atividade Corporal (www.informaluiz.com.br).
Ao desenvolver um planejamento estratégico, é essencial colocar a maior quantidade de detalhes possível para poder focar a atividade. Dados como qual será o público a ser atendido, planos a oferecer, região que vai atuar, condições de pagamento, contrato entre personal trainer e cliente etc, devem fazer parte dessa estruturação do trabalho, como acontece nas empresas.
O perfil do personal trainer
“Quando pretende entrar na área, o profissional precisa ter uma certa tolerância ao risco, que existe sempre que se fala em empreender”, conta Givanildo Matias, diretor da primeira franquia para personal trainers do Brasil, a Test Trainer (www.testtrainer.com.br), que lembra que as pessoas com perspectiva trabalhista tendem a ter certa dificuldade em lidar com o risco, já que existe uma transferência cultural do empreendedorismo. Assim, quem tem pais funcionários públicos, por exemplo, prefere ganhar pouco sempre do que arriscar ganhar um pouco mais em um mês e menos no outro.
Além do perfil vendedor e desenvoltura para poder lidar com diferentes públicos, é preciso ter competências técnicas para a realização de um bom trabalho. Investir tempo e dinheiro em cursos de extensão universitária, pós-graduação na área de atuação e vivência prática são elementos que agregam valor ao serviço e que são referências para o cliente. “Fizemos uma pesquisa para traçar o perfil do personal trainer e vimos que muitos não têm tanta vivência prática de treinar ou experiência em academia. Brincamos que tem que passar pela ‘escolinha’, tem que pegar horário de pico em academia pra saber como é e poder conduzir a carreira na direção que quer”, diz Matias.
Vem em mim
Tem personal trainer que chega a ter fila de espera de clientes que querem treinar com ele, mas para aqueles que ainda estão dando os primeiros passos, é preciso fazer prospecção, diminuir a distância entre ele e seus potenciais clientes. “Só não pode cair num erro comum de, uma vez com a carteira cheia, parar de prospectar. Tem muita sazonalidade e é sempre bom ter gente batendo na sua porta, porque aí tem barganha pra aumentar seu ticket médio”, conta Givanildo Matias.
Usar camisetas com seu logotipo, distribuir cartões de visita, enviar e-mail marketing e blog, usar as redes sociais, link patrocinado em sites de busca, anúncios em jornais de bairro etc são algumas das ações de marketing que podem ser usadas para captar novos clientes. E nem precisa ser tudo ao mesmo tempo, basta planejar para fazer uma ação por mês que os resultados começam a aparecer.
Luiz Antonio Domingues Filho propõe ações diferentes de acordo com o tempo de carreira do personal trainer:
Cuidado com a imagem
Ao usar as redes sociais para fazer a ação de marketing, é preciso ter atenção redobrada com a imagem e com o que vai ser postado. Postar fotos bebendo em festa ou fazendo gestos obscenos, escrever comentários impertinentes ou preconceituosos são ações que podem ser um tiro no pé, porque os clientes veem tudo. “É quase impossível separar o profissional do pessoal, então tem que ser o mais político possível e, acima de tudo, não pode esquecer do foco no negócio. Tem que manter boa aparência pro pessoal lembrar dele, achar bacana”, orienta o diretor da Test Trainer.
Fazer uma fan page profissional, com vídeos, dicas e postagens pertinentes ao perfil profissional é o ideal, porque o cliente consegue entender que um comentário postado não é voltado a um amigo do personal trainer.
Investir na imagem pessoal também conta. É preciso ser condizente com o que faz. Assim, de nada adianta colocar na foto de perfil uma imagem usando terno e gravata, porque aquilo não vai passar credibilidade ao aluno. “Também não pode colocar foto com bebida alcoólica ou cigarro na mão e nem foto de maiô ou que envolva o corpo. Tem que criar uma imagem positiva”, orienta Luiz Antonio Domingues Filho.
Para evitar assedio, lida com a experiência. Qualidade é muito subjetivo. Tem cliente que se não tiver personal trainer em cima, incentivando, acha que não tem personal trainer e outros que acham um saco isso. “Qualidade de atendimento é algo muito subjetivo, então, se for errar, se possível, erre pra menos”, ensina Matias, quanto à possibilidade de ser mal interpretado pelos alunos também durante a aula. Manter a distância e se aproximar do cliente aos poucos, avaliando qual a melhor linguagem a ser usada – “vou usar gírias com um senhor? Não, mas e com uma turma adolescente?”, provoca Matias -, se adaptando às necessidades e ao perfil de cada cliente: “não pode ser invasivo, mas também não pode ser distante. Tem gente que gosta de conversar e outros, mais introspectivos. Não significa que não goste de você. Com a vivência consegue pegar qual é a característica de cada aluno”, diz Matias.
Money no bolso
Com clientes cativos e o início das atividades, não dá para esmorecer. Afinal, o fantasma da sazonalidade assombra também os personal trainers e, assim como fazem as empresas, é preciso fazer uma reserva de caixa para os meses mais fracos, nos quais a renda pode cair pela metade. “Sugerimos que ele tenha uma reserva que consiga se manter por um prazo de três a seis meses sem receita. Tem gente que ganha R$ 5 mil em um mês e sai fazendo compras, passando cartão de crédito, achando que todo mês vai ser assim e não é”, alerta Matias.
É preciso fazer um levantamento de todos os custos do personal trainer para poder definir também o quanto vale sua hora aula e qual a sua real margem de lucro: “tem que considerar prestação de carro, financiamento de habitação, alimentação, cursos, plano de saúde. Já que ele é seu negócio, seus custos devem ser analisados e colocados na ponta do lápis”.
Fazer cursos de negociação e de educação financeira podem ajudar muito o personal trainer tanto na administração quanto na captação de novos alunos. Afinal, como lembra Givanildo Matias, o tempo para criar empatia é de quatro a sete segundos e depende da expressão corporal, tom de voz e, para atingir o objetivo (aluno), muitas vezes o personal trainer tem apenas uma chance de causar uma boa primeira impressão. “Tem que saber conversar sobre tudo e, caso a pessoa queira saber quanto custa a aula ou diga que é muito caro ter um personal trainer, devolva a pergunta, questionando quanto ela quer investir em si mesma”, ensina o personal trainer do In Forma: Centro de Atividade Corporal Luiz Antonio Domingues Filho, que indica cursos como os da Fundação Getúlio Vargas e da Bovespa sobre educação financeira e conta que, agora em abril, vai lançar um sistema de gerenciamento de carreira para personal trainers, chamado Faz Fit (www.fazfit.com.br). “O mercado exige que o personal trainer se prepare cada vez mais, ele precisar se formalizar para que se torne um empresário de sucesso, e assim como em toda área empresarial, precisa usar de ferramentas para isso. Não precisa fazer tudo sozinho”, conclui.