AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL POR BIOIMPEDÂNCIA

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24/04/2020

Luiz Antonio Domingues Filho

A bioimpedância é um exame não invasivo, de fácil operação, destinado à avaliação da composição corporal, que estima os componentes estruturais do nosso corpo, que são os músculos, ossos, vísceras, gordura. Além disso, esse exame oferece outros dados que proporcionam mais informações aos profissionais da área de saúde, que favorecerem no planejamento, na prescrição e orientação adequada ao cliente.

Por ser um exame rápido, seguro e indolor, é muito utilizado por profissionais de Educação Física, Nutricionistas e Nutrólogos que o utilizam para analisar a eficácia de um programa de treinamento ou reeducação alimentar (dieta), por exemplo, e pode ser realizado a cada 1 ou 3 meses para comparar com resultados anteriores, verificar alguma evolução e até mudar as estratégias.

A bioimpedância tem como base a medida da resistência total do corpo à passagem de uma corrente elétrica de 800 microA e 50 kHz. Os componentes estruturais do nosso corpo possuem uma resistência diferenciada à passagem da corrente elétrica; os ossos e a gordura, que contêm uma pequena quantidade de água, constituem um meio de baixa conectividade, ou seja, uma alta resistência à corrente elétrica. Já a massa muscular e outros tecidos ricos em água e eletrólitos são bons condutores, permitindo mais facilmente a passagem de corrente elétrica. Segundo as leis de Ohm, a resistência de uma substância é proporcional à variação da voltagem de uma corrente elétrica a ela aplicada; O aparelho irá verificar os níveis de resistência e reactância do organismo, avaliando assim a quantidade total de água, e com isso fornecerá as estimativas de gordura e massa magra do cliente, taxa metabólica basal entre outros dados.

Há vários tipos de equipamentos para a medida da bioimpedância. Alguns estudos apontam para possíveis diferenças nas medidas, de acordo com o equipamento usado. Entretanto, de acordo com o estudo de COPPINI et al. (2002) não houve diferenças significativas de resistência e de reactância entre os modelos de equipamentos pesquisados. Apenas devem ser utilizados os aparelhos que medem todo o corpo (do braço ao pé) ao mesmo tempo. 

Para fazer a bioimpedância e garantir resultados esperado, há algumas recomendações a serem seguidas pelo avaliado para não aparecerem alterações nos resultados, que são:

1. Não faça o teste após alguma refeição;

2. Não faça o exame após ter ingerido algum tipo de líquido. E quando for beber, beba de 2 a 4 copos de água duas horas antes do exame;

3. Não beba nas 24 horas anteriores, café ou álcool, pois são diuréticos e podem afetar o nível de hidratação do corpo;

4. Evite fazer exercício físico nas 6 horas anteriores ao exame;

5. Fatores como nefropatias, hepatopatias e diabetes podem influenciar o resultado obtido por este método;

6. Indivíduos portadores de marcapasso ou outro aparelho elétrico implantado no corpo e gestantes não devem fazer o exame;

7. Pessoas com peças metálicas no corpo tais como placas e parafusos;

8. Não aplicar o exame em mulheres durante o ciclo menstrual;

9. Não passar creme nos pés ou nas mãos antes de realizar o exame;

10.Usar peças de roupas leves e pequenas, que ajudem a certificar que os resultados sejam os mais exatos possíveis.

Toda a preparação é muito importante porque, por exemplo, no que diz respeito à água, se não houver hidratação adequada, o corpo tem menos água para a corrente elétrica percorrer e, por isso, o valor de massa gorda poderá ser maior do que o real. Já quando existe retenção de líquidos, é importante informar o avaliador, pois o excesso de água no corpo poderá levar a um aumento da quantidade de massa magra, que também não reflete a realidade.

QUAIS SÃO OS RESULTADOS QUE APARECEM NO EXAME E O QUE SIGNIFICA CADA UM DELES

Além do peso ou massa corporal (kg) e do Índice de Massa Corporal (kg/m2), há outros parâmetros e indicadores oferecidos pelo aparelho de bioimpedância, tais como:

GORDURA CORPORAL OU MASSA GORDA

A quantidade de gordura corporal ou massa gorda pode ser dada em porcentagem (%) ou em quilogramas (Kg). Ela se apresenta de duas formas (essencial e reserva), sendo estes componentes fundamentais para que o organismo mantenha suas funções em estado de equilíbrio. A gordura essencial é necessária para o funcionamento fisiológico normal (encontrada nos órgãos e tecidos, incluindo nervos, cérebro, coração, pulmões, fígado e glândulas mamárias, e serve como substrato energético para os órgãos, como isolante térmico e de reserva energética). Já a gordura de reserva está acumulada no tecido adiposo e se concentra como um depósito em alguns locais específicos do corpo como: quadril, abdômen, coxa e glúteos, por isso essa gordura localizada armazenada é tão difícil de ser eliminada do organismo. A massa gorda ou gordura corporal quando é acumulada em excesso, pode trazer inúmeros malefícios para a saúde, como por exemplo, o diabetes, o colesterol alto, o aumento da pressão arterial e em casos mais graves, até problemas cardíacos. A seguir os valores recomendados de acordo com o gênero e a idade em porcentagem, como se apresenta na tabela 1.

Tabela 1 – Classificação do percentual de gordura corporal (%G) conforme o gênero e idade.

IDADE

ANOS

HOMENS

MULHERES

Baixo

Normal

Alto

Baixo

Normal

Alto

15 a 24

<13,1

13,2 a 18,6 > 18,7 < 22,9 23 a 29,6 > 29,7

25 a 34

< 15,2

15,3 a 21,8

> 21,9

< 22,8

22,9 a 29,7

> 29,8

35 a 44

< 16,1

16,2 a 23,1

> 23,2

< 22,7

22,8 a 29,8

> 29,9

45 a 54

< 16,5

16,6 a 23,7

> 23,8

< 23,3

23,4 a 31,9

> 32,0

55 a 64

< 17,7

17,8 a 26,3

> 26,4

< 28,3

28,4 a 35,9

> 36,0

65 a 74

< 19,8

19,9 a 27,5

> 27,6

< 31,4

31,5 a 39,8

> 39,9

75 a 84

< 21,1

21,2 a 27,9

> 28,0

< 32,8

32,9 a 40,3

> 40,4

> 85

< 25,9

25,6 a 31,3

> 31,4

< 31,2

31,3 a 42,4

> 42,5


MASSA MAGRA

Apenas para deixar bem claro que massa magra não é o mesmo que massa muscular. Em poucas palavras, massa magra é tudo aquilo que não for gordura corporal, ou seja, a pele, músculos, ossos, vísceras, e tudo o que mais fizer parte da sua composição corporal. Independente das razões, a construção de massa magra traz inúmeros benefícios que vão muito além de estética e performances atléticas, ela traz uma vida saudável em longo prazo ao seu organismo. Semelhante à massa gorda, a massa magra também deve estar no intervalo de valores definidos como normais, por isso é utilizada, para avaliar os resultados de um programa de treinamento, por exemplo, pois permite avaliar se o cliente está ganhando músculo com o tipo de exercício físico que esteja fazendo regularmente. A seguir a tabela 2 mostra os valores recomendados em quilogramas (Kg) conforme o gênero e idade

Tabela 2 – Valores recomendados de massa magra (Kg) conforme o gênero e idade.

IDADE

ANOS

HOMENS

MULHERES

Baixo

Normal

Alto

Baixo

Normal

Alto

15 a 24

< 54,7

54,8 a 62,3

> 62,4

< 39,9

40,0 a 44,9

> 45,0

24 a 34

< 56,5

56,6 a 63,5

> 63,6

< 39,9

40,0 a 45,4

> 45,5

35 a 44

< 56,3

58,4 a 63,6

> 63,7

< 40,0

40,1 a 45,3

> 45,4

45 a 54

< 55,3

55,2 a 61,5

> 61,6

< 40,2

40,3 a 45,6

> 45,7

55 a 64

< 54,0

54,1 a 61,5

> 61,6

< 38,7

38,8 a 44,7

> 44,8

65 a 74

< 53,2

53,3 a 61,2

> 61,1

< 38,4

38,5 a 45,4

> 45,5

75 a 84

< 50,5

50,6 a 58,1

> 58,2

< 36,2

36,3 a 42,1

> 42,2

> 85

< 48,5

48,6 a 53,2

> 53,3

< 33,6

33,7 a 39,9

> 40,0

 

MASSA MUSCULAR

Normalmente quando se está praticando exercício físico de forma regular, com orientação profissional, onde envolva cargas (peso) como o treino de musculação ou crossfit, que consuma uma alimentação adequada e saudável e, tendo bom descanso ( ótimas noites de sono) por exemplo, a tendência e a massa muscular aumentar ao longo das avaliações de bioimpedância. A quantidade de massa muscular mostra apenas o peso dos músculos dentro da massa magra e essa informação pode ser dada em quilogramas (Kg) ou porcentagem (%). Apenas para alertá-lo que a massa muscular (músculo esquelético) corresponde a aproximadamente 56,6% da massa magra. Não há níveis mínimos ou máximos recomendáveis para massa muscular.


HIDRATAÇÃO OU PORCENTAGEM DE ÁGUA NO ORGANISMO 

O conhecimento deste parâmetro é muito importante para saber se o organismo está bem hidratado ou não. A água desempenha um papel fundamental em muitos processos do organismo, localizando-se em todas as células, tecidos e órgãos. Manter um percentual saudável de água garante bom desempenho das funções do próprio organismo, reduzindo riscos à saúde. Assim, quando o valor é inferior da referência, é aconselhado aumentar a ingestão de água por dia, para cerca de 2 litros, de forma a evitar ficar desidratado. Os valores de referência para a quantidade de água em homens e mulheres são diferente e estão descritos no quadro abaixo.

Quadro 1 – Valor de referência para a quantidade de água em homem e mulher


Mulher: 45% a 60%                    Homem: 50% a 65%.



PESO OU MASSA ÓSSEA

Diz respeito ao peso dos ossos de um corpo em quilogramas (kg), e é um dos elementos que compõem a massa magra. Estima-se que o esqueleto humano leva entre 18 a 21 anos para se formar por completo. Não devemos esquecer que a massa óssea varia naturalmente de acordo com sexo, idade, crescimento e atividades físicas praticadas. Logo, se espera que o valor deve ser constante ao longo do tempo para garantir que os ossos estejam saudáveis e para acompanhar a evolução. Por isso é muito importante avaliar pessoas que apresentem osteopenia (refere-se à perda de densidade óssea), e osteoporose (perda mais severa de densidade óssea o que enfraquece os ossos), por exemplo, uma vez que a prática regular de exercício físico favorece o fortalecimento dos ossos e, muitas vezes, trata da perda da massa óssea. A seguir a tabela 3 mostra os valores de referência para massa ou peso ósseo em quilogramas (kg)

Tabela 3 – Valores de referência para massa ou peso ósseo em quilogramas (kg)

GÊNERO PESO ou MASSA CORPORAL (kg) PESO ou MASSA ÓSSEA (kg)
  < de 50 kg 1,95 kg
MULHER de 50 kg a 75 kg 2,40 kg
  > De 75 kg 2,95 kg
  < de 65 kg 2,66 kg
HOMEM de 65 kg a 90 kg 3,29 kg
  >De 90 kg 3,69 kg


GORDURA VISCERAL

É a quantidade de gordura que está armazenada na região abdominal, ao redor dos órgãos vitais. Embora a presença de gordura visceral ajude a proteger os órgãos, o excesso de gordura é prejudicial e está associada ao aumento de doenças cardiovasculares, da insulina, da glicemia, de hipertensão e síndrome metabólica. Os níveis de gordura visceral são valores relativos e não absolutos, e esse valor pode variar de 1 e 59, sendo dividido em dois grupos como representado no quadro 2.

Quadro 2 – Nível de escala de gordura visceral


Nível Saudável de gordura visceral: de 1 a 12

Nível Prejudicial de gordura visceral:  de 13 a 59


 

TAXA METABÓLICA BASAL (TMB)

É quantidade mínima de energia em quilocalorias (Kcal), necessária para manter as funções vitais do organismo em repouso durante um dia. O metabolismo varia de pessoa para pessoa e é amplamente determinado por fatores como genética, peso, altura, idade, hormônios, nível de atividade, gênero, massa muscular e estado geral de saúde. Entender como fazer seu metabolismo funcionar a seu favor é o primeiro passo para um estilo de vida mais saudável e feliz. Podemos notar a importância que ela tem sobre nós. A TMB pode ser usada para estabelecer e elaborar um programa válido de controle ponderal com base na dieta, no exercício físico, ou em uma combinação eficaz de ambos. A TMB é diretamente proporcional ao peso e à quantidade de músculo. A bioimpedância não é o exame mais apropriado para medir metabolismo, mas sim a calorimetria indireta.   

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. COPPINI LZ, WAITZBERG D. Bioimpedância elétrica. In: WAITZBERG D. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 3a ed. Atheneu, São Paulo 2002: 295-304
  2. DOMINGUES FILHO, L.A – Manual do personal trainer brasileiro – 5º edição, Ícone, São Paulo, 2015.
  3. DOMINGUES FILHO, L.A – Obesidade e atividade física – Fontoura, Jundiaí, 2.000;
  4. EICKEMBERG, M; OLIVEIRA, C.C; RORIZ, A.K.C; VIEIRA FONTES, G.A; MELLO, A.L; SAMPAIO, L.R – Bioimpedância elétrica e gordura visceral: uma comparação com a tomografia computadorizada em adultos e idosos. Arquivo Brasileiro Endocrinologia Metabólica. 2013; 57 (1):27-32
  5. HEYWARD, V.H; STOLARCZYK, L.M – Avaliação da composição corporal aplicada – Manole, São Paulo, 2.000;
  6. MCARDLE, W. D.; KATCH, F.I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017
  7. TRITSCHLER, K.- Medida e avaliação em Educação Física e esportes de Barrow & McGee – 5º edição, Manole, São Paulo, 2003.
  8. WOLFE, R.R – The underappreciated role of muscle in health and disease. The American Jounal of clinical Nutrition 2006 Sep;84 (3) :475-82.