Luiz Antonio Domingues Filho e Givanildo Matias
Sem referência de mercado, profissão de Personal Trainer começa a ganhar contornos no Brasil. “A atividade de personal trainer no Brasil não tem referência. O cliente não sabe o que é bom ou ruim e acha que esse profissional tem que chegar no horário combinado, montar e desmontar pesos e contar a série de repetições pro aluno, mas não é nada disso”, é com essa descrição que Givanildo Matias, diretor da franquia de personal trainers Test Trainer, da capital paulista, define a atual situação da carreira no país e um dos desafios essenciais destes profissionais: buscar atualização, diferenciação e saber administrar o próprio tempo e trabalho, como se fosse uma empresa.
O que é ser Personal Trainer?
Profissão relativamente nova no país, já que surgiu no meio da década de 90, o personal trainer é mais do que o treinador pessoal que ajuda o aluno a entrar em forma. Com boa qualificação técnica, ele precisa enfrentar desafios variados em seu dia a dia, que vão desde saber lidar com um público heterogêneo, criando um plano de treinamento personalizado para cada cliente, até conseguir “vender” o seu trabalho. “Além de conhecimento técnico, é preciso ter vivência para ser um bom personal trainer. Assim, recomendo aos recém-formados que passem pela ‘escolinha’ antes de ingressar nessa carreira, ou seja, trabalhem ao menos seis meses em uma academia, no horário de pico, para começar a ganhar a vivência que vai ser essencial nessa trajetória profissional”, orienta Matias.
Disciplina e ambição fazer toda diferença na carreira de Personal Trainer
Para Luiz Domingues Filho, do In Forma: Centro de Atividade Corporal, de Santos (SP) e eleito o melhor personal trainer de 2012 pela Sociedade Brasileira de Personal Trainers, falta convicção e comprometimento a muitos colegas. “Um dos desafios é acreditar sempre no que faz, não ter apenas ideias, mas encontrar meios de colocá-las em prática, nunca se acomodar e buscar sempre atualização, levar o trabalho e a carreira a sério, ter ambição e disciplina, criar metas e ter tempo para si. Fala-se em qualidade de vida para o cliente, mas a maioria dos personais não o tem para si.”
Personal Trainer deve saber administrar o seu negócio
Trabalhar como personal trainer é como trabalhar em um negócio, com os elementos de uma empresa. Segundo o diretor da Test Trainer, é preciso ter perfil empreendedor, para entender que existem riscos de o negócio não dar certo, saber administrar tempo e fluxo de caixa para poder pagar as contas, saber cobrar os clientes – “tem muito personal que acaba ficando amigo do aluno e, no fim do mês, fica sem graça de cobrá-lo”, diz Matias -, fazer o próprio marketing, vender e fazer atendimento.
“A coisa muda de figura quando passamos de professores para gestores, ou melhor, gestor-professor”, conta Luiz Domingues, indicando que todo recém-formado deve ter em mente que é importante aprender a gerir o próprio trabalho.
Escolha do lugar de trabalho é determinante para o Personal Trainer
Outra característica que pode trazer vantagens e desvantagens ao personal trainer é a definição do seu local de trabalho – algo que também é decisivo na hora de definir o preço dos serviços prestados. Givanildo Matias lembra que um dos principais vilões da atualidade é o trânsito: “perde-se muito tempo com a locomoção entre um lugar e outro e uma solução é verticalizar o atendimento”. Para muitos clientes, o atendimento externo, em condomínios, parques ou mesmo na própria residência, acabam sendo um atrativo para a malhação e os alunos tendem a durar mais com o profissional. Outra saída, segundo o diretor da Test Trainer, é trabalhar dentro de uma academia, onde os alunos já se encontram. “O problema aí é que a rotatividade dos alunos costuma ser muito alta e tem as taxas da academia também. Mas academia é vitrine, é um marketing espontâneo”, lembra.
Dicas para ser um bom Personal Trainer
Para criar um bom treino para corredores, por exemplo, Domingues Filho orienta primeiramente a fazer avaliações física, médica e nutricional do aluno e, a cada três meses, refazê-las e, em seguida começar com caminhadas em ambientes abertos, como rua, praia e praças e, aos poucos, colocar exercícios de fortalecimento muscular e educativos para corrida. Conforme a evolução do aluno pode-se mesclar caminhada e corrida até que ele consiga correr por vários minutos – o que leva um certo tempo para acontecer. “Uma das vantagens que temos sobre nossos colegas é justamente o de podermos observar e avaliar as necessidades, desejos e limitações de cada aluno de forma única, individualizada”, opina o personal, que também é palestrante e pode ser contratado por meio do site www.informaluiz.com.br
Como cobrar pelo serviço de Personal Trainer?
A definição de preço deve ser considerada de acordo com a região e local de atendimento (interno ou externo), preço oferecido nas academias da região, condições financeiras dos clientes, formação e experiência do profissional, duração das sessões, frequência semanal, maximização do seu valor de mercado e lucro. “Ah, e bom senso! Os clientes estão cada vez mais exigentes e levam em consideração sua imagem, postura e atitude, aliadas à organização, método de trabalho e responsabilidade”, orienta o profissional da Informa.
Personal Trainer e treinamento funcional: futuro da profissão
Para ser bem-sucedido como personal trainer, o profissional de Educação Física não pode parar de estudar e se atualizar. Assim, sempre terá novidades para levar ao alunos, cativando-os. Givanildo Matias destaca que atualmente o treinamento funcional continua sendo bem explorado pelos personais e ajuda a motivar o aluno: “causa uma dependência do professor, porque tem o fato de não ter quase nenhum outro recurso nas aulas e ainda envolver outras variáveis e depender realmente da presença do professor para acontecer”. Segundo Domingues Filho a procura dos serviços do personal trainer também têm conquistado novos clientes, em especial pais que querem que os filhos – crianças e adolescentes – se mexam mais e deixem de lado o sedentarismo, e a turma da terceira idade que busca mais qualidade de vida. Pilates, TRX e musculação, crosscore e abdominais hipopressivos também são boas apostas.
Escolher um nicho de atuação é essencial ao Personal Trainer
Luiz Domingues Filho acha interessante e importante que o personal foque também em um nicho para se especializar e se tornar referência naquele perfil. “Percebo que uma grande maioria dos colegas não se definem assim e fazem de tudo um pouco e, às vezes, nada direito por falta de qualificação para aquele serviço ou segmento. Um personal trainer deve escolher um público que é capaz de atender com excelência”, orienta.
Descobrir o que motiva o cliente, por meio de perguntas ou tentativas, e ter um repertório variado de possibilidades de treinos a oferecer também é essencial para se manter no mercado. “Tem que conhecer muito bem os princípios da fisiologia do exercício, biomecânica e treinamento desportivo. Com essa boa base, o profissional consegue desenvolver um bom treino”, opina Givanildo Matias. Luiz Domingues complementa que focar na excelência do serviço e criar desafios fáceis de serem ajuda a motivar os clientes, que ficam satisfeitos e com a autoestima em alta.
Trabalhar com Small Groups é uma ótima opção ao Personal Trainer
Assunto abordado em 70% das palestras da Ihrsa, maior convenção fitness do mundo, nos Estados Unidos, a questão dos small groups, ou seja, pequenos grupos de alunos que se juntam para pagar a hora do profissional de educação física, democratizando o trabalho do personal trainer é malquisto pelos mais experientes por não contar com um atendimento individualizado. “Em termos financeiros, trabalhar com grupos de até cinco pessoas é mais fácil pra reduzir o custo, mas o acompanhamento deixa a desejar”, conta Luiz Domingues, “por outro lado, tenho observado o trabalho feito com casais e famílias, com a participação ativa de psicólogos, e os resultados são bem interessantes. São usados locais específicos e exclusivos com atividades lúdicas que ajudam a fortalecer a relação entre eles”. Seja qual for a opção do profissional – grupos ou aluno individual -, ele precisa ter em mente que é preciso ter persistência para seguir na carreira de personal trainer e não desistir logo no início. Aos poucos os obstáculos vão sendo transpassados e novos clientes aparecem.